sábado, 16 de abril de 2011

Yuri Gagarin e a Terra Azul

Há cinco décadas um de nós deu um salto jamais dado, e orbitou por pouco mais de uma hora, a centenas de quilômetros de altitude, a todos nós, com nossos conflitos e vitórias, ou como Carl Sagan diria, “o agregado de nossa alegria e nosso sofrimento”. Yuri Gagarin foi o primeiro de nós a ter um vislumbre do pálido ponto azul, que a centenas de quilômetros ainda surge como uma vasta abóbada, mas uma vasta abóbada azul. “A Terra é azul. Que maravilhoso!”, exclamou para o controle da missão. Gagarin vislumbrou uma perspectiva numinosa, que inspira profunda humildade, fascinação e admiração.
Somados ao longo de toda uma vida, cruzamos com nossos próprios pés milhares de quilômetros de distância percorrendo a superfície deste planeta. Poderíamos dar mais de uma volta através do globo, mas andamos em círculos pequenos, não raro em torno da pequena região próxima onde nascemos. Se apenas pudéssemos traçar estes passos não apenas cruzando o mundo, como em direção ao espaço infinito, é novamente assombroso como bastam algumas centenas de quilômetros para ver a Terra azul, sem fronteiras retilíneas, apenas uma vasta planície que se curva no horizonte, marcada quando muito por rios e oceanos, montanhas e vales, e coberta por uma camada de nuvens brancas sempre mutante, composta da mesma substância que responde por toda a vida que conhecemos e que escorre de nossos olhos quando sentimos nossas mais fortes emoções.
O primeiro homem no espaço foi chamado de cosmonauta, em contrapartida aos astronautas americanos, ou mesmo aos taikonautas chineses. São todos seres humanos, são todos pessoas que deixaram aqueles que amavam abaixo e tiveram medo de nunca mais voltar. Somos nós. Se a tecnologia que lançou Gagarin ao espaço foi a mesma que é capaz de lançar ogivas atômicas que transformariam a cor de todo o planeta em um cinza nuclear, há algum conforto e motivo para celebrar que não tenhamos pintado o ponto em que vivemos de cinza, e neste exato momento haja seis seres humanos orbitando a todos nós.
Seis seres humanos no espaço, incluindo russos e americanos, em uma estação espacial resultado da colaboração contínua de inúmeros países representando centenas de milhões de pessoas em cooperação. Como Gagarin, os tripulantes da Estação Espacial Internacional vêem o planeta azul, e diferente de Gagarin podem partilhar sua emoção, e algo de sua visão, em tempo real.
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Algum dia, um de nós deixará o planeta sem medo de nunca mais voltar, porque estará indo viver uma aventura fantástica ao encontro daqueles que ama em um lugar muito mais distante do berço azul onde nascemos. Algum dia, um ponto a milhões de quilômetros de distância, seja ele de que cor for, será o berço de muitas pessoas, que ainda assim serão como nós. Porque seremos nós.
Encaramos desafios imensos, mas somos capazes de façanhas incríveis. Vivemos em maravilhoso berço azul, vasto porque ainda somos infantes, mas ínfimo perto do infinito que podemos explorar. Yuri Gagarin o viu primeiro.



Via: Sedentariohiperativo

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