sexta-feira, 24 de maio de 2013

O sacrificio



Minha irmã me mandou esse vídeo por e-mail. Ela é religiosa — católica, como eu era — e, como toda pessoa religiosa, precisa raciocinar de uma forma desonesta para manter sua fé.
Sendo ateu, não foi difícil perceber a desonestidade por trás da mensagem que o vídeo pretende transmitir. O crente, ao contrário, só consegue enxergar a perfeição com que o filme aborda o amor de Deus pela humanidade.
Esse vídeo, que parece cumprir o papel de uma propaganda ou autoexaltação da fé cristã, é entendido pela mente do religioso como um tipo de “briefing”. Acho que eles devem perguntar a alguém a quem mostram o filme pela primeira vez: “Entendeu agora?”.
Eu entendi sim: o crente é, antes de tudo, uma pessoa intelectualmente desonesta consigo mesma.
A situação exibida no filme pretende ser associada ao mito da salvação da humanidade pelo sacrifício de Cristo. O operador da ponte do trem seria Deus, e a criança que morre esmagada, Jesus. Mas o homem que tem que decidir entre salvar seu próprio filho ou salvar a vida de vários desconhecidos não está, nem de longe, na mesma situação do deus cristão. Não foi ele quem “armou” o acidente, quem “arquitetou” esse “plano” que envolveria, obrigatoriamente, a morte do seu filho para a salvação dos passageiros do trem.
Portanto o vídeo jamais poderia servir para o fim a que se destina, pois a comparação é completamente equivocada. Mas o crente recorre, como sempre, à sua desonestidade para enxergar o que não está lá, para ver as coisas como elas “precisam” ser vistas, para continuar mantendo de pé um universo encantado onde Deus existe. Sem essa desonestidade intelectual inconsciente, esse universo desmoronaria.
O mito da “Salvação”, pela história do trem (honestamente contada), teria que ser assim:
Deus gerou muitos filhos. Mas a grande maioria deles não o amava, nem lhe dava atenção, nem ligava para o que ele dizia… Um dia, Deus armou um plano para conquistar o amor dos filhos rebeldes: colocou todos eles num trem, menos o caçula, e lhes disse que eles iriam passear e se divertir muito, enquanto ele e o filhinho mais novo estariam trabalhando na ponte levadiça. Daí, quando o trem se aproximou, Deus empurrou o caçula no fosso e abaixou a ponte em cima dele. E tendo feito isso, passou a chantagear os que haviam sobrevivido no trem: “Como vocês podem não me amar depois de tamanha prova de amor que lhes dei? Afinal, sacrifiquei a vida do meu filho mais amado pela de vocês…”
Seria de se esperar que pessoas honestas, ao descobrirem que tal tragédia foi intencionalmente arquitetada, e justamente por aquele que está querendo posar de herói, ainda mais quando se supõe que ele poderia ter obtido os mesmos resultados por outros meios que não o sacrifício de um inocente, seria de se esperar que essas pessoas vissem nesse ato absurdo o dedo de um louco, ou de um assassino abominável.
Somente a desonestidade permite que o cristão veja esse personagem do seu livro sagrado como detentor de poder, sabedoria e amor infinitos; porque, honestamente, Deus teria que ser visto como um criminoso execrável.
Ou como uma divindade com sérios problemas mentais.

 Direto www.deusilusao.com

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