A Igreja Universal do Reino de Deus já é hoje uma das instituições mais prósperas do planeta. Arrecadando cerca de R$1,4 bilhão em dízimos anualmente, em valores apurados pela Receita Federal em 2009, as receitas da igreja superam as de companhias listadas em Bolsa -e que pagam impostos-, como a construtora MRV (R$ 1,1 bilhão), a Inepar (R$ 1,02 bilhão) e a Saraiva (R$ 1,09 bilhão). Seu conglomerado de comunicação é, segundo a Anatel, a maior proprietária de concessões de televisão do Brasil, ultrapassando em número mesmo concorrentes poderosos como as Organizações Globo.
Outras igrejas em ascensão no Brasil também colhem os frutos da boa prosperidade: em menos de quinze anos a Igreja Mundial do Poder de Deus alcançou mais de 2.300 templos e fez com que a Forbes estimasse a riqueza de seu fundador e condutor de ovelhas, Waldomiro Santiago, em US$ 220 milhões (R$ 450 milhões).
Porém, além da riqueza, recentemente o poder e prestígio de tais figuras também chegou ao noticiário.
Concedendo passaportes diplomáticos em “caráter de excepcionalidade”, autorizados diretamente pelo Itamaraty, ao apóstolo Valdemiro Santiago e sua esposa, da Mundial, ao bispo Romildo Ribeiro “R.R.” Soares e sua esposa, da Graça de Deus, e a Samuel Cássio Ferreira e a Keila Campos Costa, da Assembléia de Deus, o governo reconhece que essas figuras portam tal privilégio internacionalmente em função do “interesse do país”.
Estes privilégios não surpreendem dado seu poder político . Com uma presença cada vez maior no legislativo em todas as esferas da República, com 63 deputados e nada menos que três senadores, qualquer candidato a presidente que almeje liderar o governo deve acenar aos interesses da bancada, e uma vez eleito, deve continuar servindo aos seus interesses. Mesmo nomeado ministro da Pesca, adentrando o poder executivo na esfera federal, o bispo Marcelo Crivella deixou claro que isso não garantia apoio de sua bancada ao governo.
Mesmo no poder judiciário, que talvez pareça ao incauto o poder mais resistente à penetração da igreja no Estado, não podemos esquecer da principal denominação religiosa no Brasil. Frente à vertiginosa ascensão das novas vertentes pode-se perder de vista reportar sobre as conquistas históricas e ainda presentes da Igreja Católica Apostólica Romana.
Estimar a fortuna desta Igreja no Brasil ou no mundo é muito difícil, dado que ao longo dos séculos diversos mecanismos especiais foram criados justamente para impedir que este patrimônio seja avaliado e o Estado interfira na Igreja. Mas de todas formas possíveis, a Igreja interfere no Estado. As novas denominações encontram números vistosos para serem exibidos – ou contestados – dada sua novidade e ânsia em adquirir propriedades e veículos de comunicação, algo que a Igreja Católica já alcançou desde tempos primórdios à descoberta deste rincão no Novo Mundo. As fortunas estimadas dos condutores de ovelhas brasileiros mal se comparam com as dezenas de bilhões de dólares que o Papa tem à sua disposição apenas como recursos financeiros para movimentação, com um patrimônio imobilizado quase que literalmente inestimável. Em valores mundanos, a Igreja Católica é uma das maiores empresas do mundo, se não a maior.
E com passaportes diplomáticos concedidos também ao arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, e uma CNBB envolvida diretamente na política, com praticamente nenhuma voz de contestação, pelo contrário, de aceitação natural desta “herança cristã”, a fé católica vê-se representada em praticamente todos os tribunais do poder judiciário através de crucifixos, e, através das ordens de um presidente fiel, José Sarney, tem o seu Deus particular louvado em todas as cédulas de dinheiro que circulam. São apenas símbolos de uma força tão onipotente e onipresente que nem é percebida.
Se a riqueza e o poder dos novos ricos religiosos chama a atenção, é apenas por sua novidade.
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