Publicado em 02/01/2013 por Barros
”
Pergunte
a um padre da igreja Católica, ou a um obreiro da Universal, ou a uma
testemunha de Jeová que apareça no seu portão se eles sabem a definição
da palavra “ateu”. Eu quero que a alma da minha mãe vá tostar no Inferno
se não souberem!
Ateu é aquele que não acredita em Deus.
E ainda arrisco dizer que alguns estarão aptos a dar uma aula de etimologia:
“Ateu” vem do latim atheus.Esse a significa negação, ou ausência.E theus significa Deus.
O ateu seria, portanto, uma pessoa que nega Deus; uma pessoa sem Deus, certo?
Errado.
A palavra latina atheus deriva da palavra grega átheos,
e os gregos que a conceberam não faziam a menor ideia de quem era Deus,
pelo simples fato de que Deus não compunha o seu panteão de deuses. Theos, em grego antigo, significava “divindades”.
As
primeiras civilizações sempre tinham várias divindades às quais se
atribuía o controle de diferentes coisas no mundo. Havia um deus
responsável pelas boas colheitas, outro pelas pestes, outro pelo clima, e
assim por diante. Pela época em que os gregos chamavam os seus
descrentes de ateus, Deus atendia por outro nome e ainda fazia parte de
um grupo de divindades cultuadas pela sociedade hebraica politeísta de
então. Durante
os longos períodos de escravidão, o subjugado povo hebreu passou a
venerar mais especificamente o único deus ao qual poderia dirigir suas
preces, o único que lhe poderia ser útil numa batalha pela libertação e
na luta pela conquista de um novo território: seu deus da guerra, Jeová.
Não é à toa que a Bíblia descreve Deus como sendo tão propenso a matar
pessoas, tão irascível e tão belicoso. Ele era, de fato, o senhor dos
exércitos, e sua função era exterminar os inimigos de seus devotos. Mas
foi por uma combinação de acaso e força política que Jeová acabou se
tornando o único deus digno de culto, quando seus mais fervorosos
crentes assumiram definitivamente o poder e, por força de lei,
transformaram os hebreus num povo monoteísta.
Também
na Grécia antiga cultuavam-se inúmeros deuses. Zeus era o mais
poderoso, o senhor de todos eles; Crono, pai de Zeus, era o deus do
tempo; Afrodite, a deusa do amor; Hades, o deus do mundo dos mortos;
Ares, o correspondente grego de Jeová, era o deus da guerra; e muitos
muitos outros. Na civilização onde a palavra foi criada, ateu seria
aquela pessoa que não venerava nenhum desses deuses. Se um cristão, um
hindu, um judeu e um muçulmano fossem transportados no tempo para aquela
época e lugar, todos eles seriam considerados ateus, porque certamente
não iriam se dispor a adorar nenhum dos deuses gregos de então.
Resgatando
a definição original, ateu seria aquele que não crê em nenhuma das
divindades cultuadas pela sociedade na qual está inserido, visto que os
gregos que cunharam o termo estavam considerando apenas os seus próprios
deuses. Assim, um judeu seria ateu numa sociedade hindu; um hindu seria
ateu numa sociedade islâmica; um muçulmano, numa sociedade cristã; e um
cristão, numa sociedade judaica, porque, esperneiem o quanto quiserem,
Alá, o Deus cristão e o Deus judaico não são a mesma divindade, apesar
da origem comum. Dizer o contrário só seria possível se você conseguisse
imaginar um mundo onde sua mãe pariu você, e, ao mesmo tempo, ela não
pariu você. Diferentemente do Deus cristão, o Deus judaico nunca
estuprou uma virgem para ter um filho mortal. E mesmo o Alcorão, segundo
Christopher Hitchens, traz duas suras que advertem ao muçulmano que ele irá para o Inferno se considerar que Jesus é filho de Alá.
Esclarecido
o significado original da palavra ateu, fica fácil perceber que ela
atualmente foi sobrescrita em duas novas e diferentes acepções. Por um
lado, para os
ateus, ela ficou mais abrangente e passou a englobar a descrença em
todos os deuses de todas as civilizações e de todas as épocas. Já a definição de ateu como sendo “aquele que não crê em Deus” só seria válida em sociedades com o mesmo tipo de fé religiosa que a nossa. Entretanto, a onipresente força de marketing
das religiões cristãs ao redor do mundo, de acordo com seus interesses e
sua peculiar desonestidade, sequestrou o termo para uso exclusivo, de
forma a fazer parecer que a palavra se refere tão somente ao Deus
bíblico, como se ele fosse a única divindade em que as pessoas poderiam
acreditar.
Ou não.
Direto do deusILUSÃO
FELIZ 2013 - Desejo um cheio de mais boas atitudes e menos orações !!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário