Espiritismo: sua alma é reciclável (parte 1)
Publicado em 15/11/2011 por Barros
Eu
fiz o Ensino Médio num colégio que adotava, em todas as avaliações, um
eficiente sistema “antichute”, pelo qual três questões erradas, marcadas
numa prova de múltipla escolha, anulavam uma resposta certa. Se
você não tinha certeza, ganhava mais deixando a questão em branco! Isso
me fez não só valorizar o pouco conhecimento que eu tinha, como aprender
a nunca ter vergonha da minha ignorância. Uma postura certamente
utilíssima, uma vez que somos, sem exceção, convidados a nos conformar
com uma parcela insignificante de compreensão acerca de um limitadíssimo
número de coisas, tendo que nos contentar com diferentes níveis de
ignorância sobre todo o resto.
Por
isso eu, um ignorante assumido, não me envergonho de dizer que ignoro
completamente a doutrina espírita. O que não me impede de iniciar essa
nova série de reflexões, na esperança de que algum leitor comente os
textos e vá me corrigindo.
Uma
coisa que sei sobre o Espiritismo é que foi fundado/criado/desenvolvido
(não sei que palavra usar) por Allan Kardec. E uma coisa que sei sobre
Allan Kardec é que ele ficou tremendamente impressionado quando viu,
pela primeira vez, um espírito se revelar durante uma sessão mediúnica,
através de batidas sobrenaturais da mesa contra o chão. A partir daí
começaram seus “estudos” e “pesquisas”, o que acabou resultando no seu Livro dos Espíritos, e, posteriormente, na “doutrina” (=seita?, religião?, clube?) da qual foi o fundador.
Eu
imagino a cena — uma mesa redonda numa casa grande, velha e mal
iluminada no centro de Paris… médiuns reunindo-se para contactar o além…
— e lembro que já passei por uma situação bem semelhante na minha
adolescência.
Numa
certa noite de tempestade, quando meus pais não estavam em casa e o
bairro se encontrava todo às escuras, minha irmã mais velha e umas
amigas fizeram questão de que eu visse um espírito se manifestar através
da “brincadeira do copo”, uma versão matuta de uma tábua Ouija. O
processo era bastante simples: elas faziam uma pergunta ao espírito, e
este ia movimentando um copo emborcado sobre uma cartolina — onde haviam
sido cuidadosamente pintados os números de 0 a 9, as letras do alfabeto
e as palavras “sim” e “não” — até completar a resposta. Como na tábua
Ouija, as pessoas que o espírito estava usando para se comunicar
permaneciam o tempo todo tocando o fundo do copo com a ponta dos seus
dedos indicadores.
Perguntei
se o espírito podia dar as respostas sem que elas tocassem no copo, e
elas disseram que não. Não lembro o motivo que alegaram, mas tinha a ver
com energia extracorpórea, aura magnética, esse tipo de coisa… Então eu
quis saber se podia eu mesmo fazer uma pergunta ao espírito, e elas
disseram que precisavam perguntar ao próprio:
— Espírito, o maninho pode te fazer uma pergunta?
Quase
que instantaneamente, o copo começou a deslizar sobre a cartolina, e
parou sobre a palavra “sim”. Mantendo os dedos sempre sobre o copo, elas
olharam para mim sorrindo — meu medo juvenil as vinculando a criaturas
demoníacas, mal iluminadas que estavam pela luz bruxuleante da única
vela no aposento. Eu pronunciei, então, a pergunta:
— Em que ano você morreu?
O
copo fez um percurso lento, mas decidido, ao longo do arco dos números,
parando aqui e ali por uns poucos instantes: 1… 9… 0… e 5. Era isso! O
ano em que ele morreu foi 1905!!
Elas olharam para mim satisfeitas, e ainda estavam sorrindo quando eu emendei outra pergunta, dirigida ao espírito:
— Quem era o presidente do Brasil na época?
Pra
falar a verdade, eu não sabia a resposta, mas ficou claro que o
espírito também não sabia, porque o copo permaneceu imóvel pelos minutos
seguintes. Depois, quando tornaram a olhar para mim de novo (os
sorrisos transformados em carrancas…), minha irmã me explicou o que
achava que podia ter acontecido:
— Talvez ele não fosse brasileiro… e não sabia quem era o presidente daqui…
Mas foi outra médium que me deu uma resposta mais convincente:
— Ele tinha dito que você podia fazer “uma” pergunta: você fez duas.
— Então pergunte se eu posso fazer outra — eu sugeri.
— Espírito, ele pode te fazer outra pergunta? — a menina disse em voz solene, contemplando as trevas em volta.
Ao
som dos trovões que ribombavam acima, e à luz de um toco de vela que
projetava sombras macabras nas paredes do quarto, eu vi o copo deslizar
trêmulo em uma espiral ascendente, no sentido anti-horário, e parar bem
em cima da minha resposta: não.
.
CONTINUAÇÃO:
Parte 2 -
Parte 3 –
Parte 4 –
Parte 5 -
Direto do deusILUSÃO !!
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