A Origem de Deus
De onde veio Deus? Ele é eterno como afirmam os religiosos ou tem uma
origem desconhecida em algum ponto do passado? Seria esta uma questão
acima da compreensão humana ou uma investigação minuciosa revelaria sua
origem? Seria Deus um ser real ou apenas mais um mito criado pelo homem?
Nas linhas que seguem lhe proponho a origem de Deus.
A natureza humana
Para se entender a origem de Deus, faz-se necessário primeiramente compreender a própria natureza humana. Todos
os seres vivos, entre eles o homem, têm como imperativos a preservação
da vida e a perpetuação dos genes. Cada organismo possui características
que lhe permite sobreviver em seu ambiente. Entre diversas ferramentas
de sobrevivência, uns desenvolveram venenos, outros camuflagem, outros
ainda asas e garras. O ser humano desenvolveu a razão, a mais eficiente
ferramenta, a qual lhe permite adaptar o ambiente a si, minimizando a
necessidade de se adaptar ao ambiente. A razão humana, sediada no
cérebro, é totalmente dependente de sensores de estado. Os sentidos da
visão, audição, olfato, paladar e tato informam o estado do ambiente; as
sensações de fome, sede, calor, frio, etc., informam o estado do
organismo. A partir do confronto dessas informações o córtex cerebral
efetua simulações de seu próprio e outros organismos em ambientes
mentais com o fim de testar possibilidades e tomar ações instantâneas,
ou programá-las com até anos de antecedência, para sua sobrevivência.
Tais simulações são comumente conhecidas como pensamento, imaginação,
sonho e pesadelo. Além da capacidade de simular, o homem possui
sentimentos que são impressões dos sentidos e das sensações guardadas no
cérebro. O mais importante deles é o medo, cuja sensação equivalente é a
dor, com base nele o homem decide praticamente tudo que se refere à
sobrevivência.
A origem de Deus
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Confronto entre o bem e o mal
personificados pela imaginação
humana. |
Sem limites aparentes, a mente humana simulou todo tipo de seres e
ambientes com o fim de se preparar para um confronto futuro com
quaisquer tipos de ameaças. Formulou lugares prazerosos como o paraíso
ou tenebrosos como o inferno. Projetou seres poderosos e invisíveis, mas
curiosamente visíveis nas simulações, porque nelas não há impossível.
Desta forma, não é de se admirar que os deuses sejam extremamente
adaptáveis a quaisquer situações, infringindo os limites físicos,
racionais, lógicos, morais e éticos. Perversos em algumas
circunstâncias, castigando e ordenando o massacre de multidões ou
extremamente misericordiosos como pais amorosos, prometendo perdão,
riqueza e vida eterna. Ora semelhantes a assassinos passionais matando e
condenando ao fogo eterno quem não corresponde ao seu amor doentio, ora
parecidos a compreensivos maridos que perdoam a esposa adúltera.
Impotentes para evitar uma tragédia alheia, mas capazes de construir
planetas e até o universo para seu próprio prazer. Por mais grandiosos
que sejam, os deuses e seus ambientes sempre obedecem às leis das
simulações mentais: Céu e inferno são os campos de prova, deuses e
demônios são os organismos predadores mais eficientes possíveis. O
córtex cerebral põe seu próprio organismo neste campo de batalha e busca
formas de sobrevivência. O problema é que fugir ou destruir seres desta
magnitude é impossível, então as únicas alternativas plausíveis são
apaziguá-los (oferendas e obediência) ou fazê-los confrontar-se (bem x
mal, Deus x Satanás, anjos x demônios) na esperança de que um venha a
aniquilar o outro. Como as informações processadas no cérebro, sejam
elas reais ou simuladas, têm a mesma natureza – conexões neurais –
imaginação e realidade se confundem nas mentes desprecavidas. Desta
forma o homem criou Deus, anjos, demônios e o mundo espiritual, passando
a adorá-los, temê-los e ensiná-los às posteridades através das
religiões. Como naturalmente a imaginação precede a análise, o mundo
imaginário se antecipou em muito à compreensão do mundo real, tornando a
humanidade escrava desse pensamento durante milênios até os dias de
hoje. Embora agora se tenha o conhecimento científico como uma eficiente
ferramenta de libertação, sua árdua assimilação faz com que poucas
pessoas tenham disposição para se dedicar a ele a fim de entender seu
mundo imaginário.
A medida de todas as coisas
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O Homem Vitruviano
Centro do Universo
Da Vinci - 1492 |
É importante notar que a origem das entidades e ambientes espirituais
está nas informações colhidas pelos sentidos e sensações humanos sobre o
mundo real, principalmente pelo sentido da visão. As asas dos anjos são
como as de pombos ou águias. Deus tem braços e boca como os seres
humanos e, inclusive, no livro judaico-cristão, é considerado padrão de
imagem para a criação do homem quando, na verdade, é antropomórfico.
Para o homem não há ser mais destrutivo e ameaçador que ele mesmo, por
isso os deuses mais assustadores são formulados com características
humanas, alguns com partes de animais para parecerem mais
aterrorizantes. O deus Anúbis dos egípcios, por exemplo, tem corpo
humano e cabeça de chacal. A invisibilidade dos deuses é baseada nas
características do ar que, embora invisível, é sentido e indispensável
para a vida orgânica. Muitas referências bíblicas afirmam que Deus é
feito de ar (pneuma, espírito). Já os ambientes sobrenaturais como
paraíso e inferno, se baseiam em jardins, céu, fogo, enxofre, luz,
escuridão, etc., todos encontrados na natureza. Essa imaginação limitada
por figuras naturais conhecidas ocorre porque não há uma realidade
transcendental que venha a ser informada ao homem além daquilo que seus
sentidos e sensações possam coletar do mundo real, pois “o homem é a
medida de todas as coisas” (Protágoras, 487-420 a.C.).
Reflexão
O tempo, a experiência de vida, a aquisição de informações mais apuradas
tendo como referências o mundo real e os fatos, faz algumas pessoas
adquirirem a capacidade de discernir o real do imaginário para alívio de
sua consciência. A sugestão cultural e religiosa acerca de um mundo
sobrenatural encaminha o ser humano a pensar que o imaginário é real
ainda na tenra infância, fase da vida na qual não há experiência,
consciência e razão suficientes para se refutar o improvável. Na fase
adulta, se não houver grande exercício mental para averiguar todos os
sofismas que protegem as crenças em seres espirituais – incluso Deus,
cuja origem é a imaginação humana – eles atormentarão a mente dos que
crêem com promessas e ameaças até o fim de sua existência.
Direto do deuscienciaereligiao.blogspot.com.br
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