Muito
frequentemente nós somos enganados pelos nossos sentidos. E muito
frequentemente, também, nós nos deliciamos com isso, a ponto de pagarmos
para sermos vítimas de uma ilusão. De truques de mágica à indústria
cinematográfica, esse aspecto da nossa condição humana nos tem feito
enriquecer, ao longo dos séculos, aqueles que descobriram como nos fazer
bem ao nos iludir. A religião, porém, é um exemplo claro de como uma ilusão pode se tornar danosa.
Danosa, obviamente, para o lado que não está ficando milionário com a fé alheia.
Pessoas
religiosas costumam argumentar, baseadas em pesquisas científicas, que a
crença em uma divindade é algo bastante benéfico para o indivíduo; seja
para sua vida social ou para sua saúde física e emocional, por exemplo.
Essa declaração, apesar de correta, não torna a fé religiosa menos
prejudicial à nossa sociedade, à nossa civilização, e mesmo até à nossa
espécie. Se for para analisar os prós e os contras, pode-se acabar
chegando à conclusão de que é possível se adquirir, por outros meios, os
mesmos benefícios atribuídos à crença em deuses, sem precisar trazer a
reboque tudo de ruim que está, sempre esteve, e sempre estará vinculado à
Religião. Tentar negar essa proposição é uma reação natural, fruto de
um afundamento excessivamente longo dentro de uma sociedade doutrinada a
pensar exatamente isso: que acreditar em deuses faz bem, sob todos os
pontos de vista. Mas isso depende. E depende muito. E essa dependência é
demasiadamente perigosa.
Se,
acometidos de uma mesma e gravíssima enfermidade, um crente e um ateu
são submetidos a idênticos cuidados médicos, os resultados dessa atenção
devem ser semelhantes. Entretanto, se por motivos diversos (e, na
esmagadora maioria dos casos, perfeitamente explicáveis), o tratamento
surtir efeito apenas em um deles, e o outro vier a morrer, a mente
religiosa irá se apegar a uma das duas seguintes conjecturas, para sua
própria conveniência. A primeira, se morrer o ateu, que a fé salvou o
crente. A segunda, se morrer o crente, que foi a vontade de Deus, e
devemos todos nos conformar com ela.
Nos
dois casos, o religioso está aplicando em si mesmo a ilusão que lhe
rende aqueles supostos benefícios, e que engorda as contas bancárias
daqueles que lhe incentivam a continuar acreditando que ele está se
beneficiando de alguma coisa.
Acreditar que o ser supremo que criou todo o universo está tão preocupado com você a ponto de “auxiliar”
na sua recuperação durante um tratamento médico intenso pode, sim, de
alguma forma, contribuir para sua melhora, uma vez que, provavelmente,
vai deixar você mais otimista, mais calmo, etc. Mas acreditar que o
Todo-Poderoso vai curar
você sem ajuda extra pode te levar à morte. Tão longe que estamos dos
tempos bíblicos, Deus hoje só cura através de um bom plano de saúde.
O mais que passa nos shows
de horrores dos programas religiosos que você assiste na tevê, e a que
tantos olhos chorosos e desesperados veem como milagre divino, é tão
somente um engodo; um embuste amalamanhado, quase sempre tão mal feito
que só mesmo a vontade de ser iludido pra justificar a crença numa coisa
tão explicitamente forjada.
Mas, no fim das contas, religião é apenas isso mesmo: a consumação de uma fraude aliada ao desejo de ser enganado por ela.
Direto do www.deusilusão.com
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