O Brasil sem o PT
A campanha de Lula desconstruiu o partido
No dia 7 de outubro, o país pode acordar com a notícia de que Lula é o novo presidente. Um evento histórico, sem dúvida. Mas o evento mais importante já aconteceu: o fim do PT. A vitória ou a derrota de Lula não pode modificar isso.
A campanha presidencial de Lula desconstruiu politicamente o PT, ao renegar os fundamentos sociais e históricos do partido. O PT aliou-se ao PL e definiu a candidatura como de colaboração entre o trabalho e o capital. O PT aliou-se a Sarney, Quércia e Itamar, comprometendo-se com as elites tradicionais da política brasileira. O PT proclamou-se herdeiro de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e do 'planejamento estratégico' do regime militar, incensando a modernização conservadora que reproduziu, em escala ampliada, as desigualdades sociais na cidade e no campo. O PT adotou o programa econômico de FHC e Malan, baseado no tripé câmbio flutuante, austeridade fiscal e metas de inflação. O PT assumiu o acordo com o FMI que regula as relações entre o país e o mercado financeiro internacional.
É de uma ingenuidade singular atribuir isso tudo a Duda Mendonça ou ao oportunismo eleitoral. A política é um discurso sobre o mundo. Em política, as palavras - ou, ao menos, parte delas - têm sentido.
O PT, que nasceu como 'partido da mudança', tornou-se um 'partido da ordem', apto a governar junto com as elites tradicionais e em sintonia com as instituições financeiras multilaterais. Nada sobrou do partido original - exceto o nome, os símbolos e a memória histórica. Isso significa que, no fim das contas, FHC pode saborear a mais doce das conquistas, que é a conversão ideológica do adversário. Contudo, o fim do PT não é uma boa notícia para a democracia brasileira, que foi amputada de um elemento essencial de equilíbrio.
O surgimento do PT, há mais de duas décadas, reproduziu - com um século de atraso - o fenômeno histórico que assinalou a emergência das democracias parlamentares européias. No Brasil, como na Europa do século XIX, o movimento dos trabalhadores adquiriu expressão política autônoma, desgarrada de elites nacionalistas e populistas. O partido autônomo e de massas que surgiu no Brasil forneceu uma alternativa democrática às correntes de esquerda que se debatiam no túnel sem saída da crise ideológica do comunismo de inspiração soviética. É por isso que o lento colapso do regime militar desaguou no jogo político democrático, travado nas instituições e nas ruas, mas nunca por meio das armas.
A existência do PT fechou o caminho da luta armada. Os grupos de esquerda, desiludidos com Moscou e potencialmente disponíveis para retomar as experiências interrompidas da luta clandestina, foram sugados para o ar livre e aprenderam a arte política das manifestações públicas e das eleições periódicas. É por isso que o Brasil não conheceu, durante essa transição crítica, nada semelhante às guerrilhas colombianas, ao Sendero peruano ou às células armadas chilenas e argentinas.
A desconstrução do PT encerra um ciclo histórico e revela as dificuldades imensas, postas pela globalização, de expressão institucional da 'política da mudança' nas sociedades periféricas. O fim do PT abre um vazio no lado esquerdo do espectro político nacional. Esse vazio será preenchido, de uma forma ou de outra.
Na Veja dessa semana,então ele faz um desenho lúcido sobre os conceitos de" esquerda e direita", e avalia o governo sob uma ótica de um intelectual independente,como ele mesmo diz: " quem fala bem do governo tá querendo emprego ".
Breve eu posto a entrevista completa...aguardem..
"Há mais no ateísmo do que a simples negação de uma afirmação: ele é na verdade baseado em uma atitude científica que valoriza a evidência e a razão, que rejeita afirmações baseadas somente em autoridade e que encoraja uma exploração mais profunda do mundo. Meu ateísmo não é somente uma negativa de deuses, mas é baseada em todo um conjunto de valores positivos que eu enfatizo quando falo sobre ateísmo. Aquele lance de negar a existência de Deus? É uma consequência, e não uma causa" - Myers(2011)
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