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Se
eu acreditasse em Deus, haveria uma pergunta que certamente iria me
incomodar muito antes de conciliar o sono, logo após ter feito as minhas
orações noturnas… Uma pergunta que, por algum motivo, não incomoda os
crentes que eu conheço: “Por que Deus precisa assim tão desesperadamente ser amado?”.
Eu
andei pensando nisso ultimamente, enquanto apanho cocô de gato do
jardim da minha mãe. É uma pergunta até filosófica, eu acho, e eu tenho
filosofado muito esses dias, até porque tem muita merda de gato pra
apanhar todo dia de manhã.
A
primeira coisa que me ocorreu, como resposta, foi que a necessidade de
ser amado talvez seja diretamente proporcional à nossa vaidade. Daí eu
considerei esse modelo aí do anúncio.
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Pois bem. Eu pensei “Como
um cara bonitão desse jeito iria se sentir se nenhuma mulher se
interessasse por ele? Se não tivesse nem mesmo nenhum amigo ou amiga? Se
ninguém gostasse dele?”. Na certa o cara ia ter que fazer terapia.
Entretanto, seria preciso admitir que, se esse modelo fosse um rapaz
interessante, inteligente, divertido, educado, afetuoso, não tivesse mal
hálito e coisa do tipo…, ele não teria nenhuma dificuldade em fazer
amigos(as), muito menos em despertar interesse (sexual/afetivo) no sexo
oposto.
Aí
desmoronou minha tese. Ora, mesmo que ele fosse extremamente vaidoso (e
com motivos para isso), não haveria por que cultivar uma necessidade
doentia de despertar interesse nas pessoas, porque tal interesse seria
apenas uma consequência de uma realidade inegável: ele é bonito,
charmoso, boa-praça, inteligente, engraçado, gentil, etc. Sendo assim,
ele já teria há muito se acostumado com o “amor voluntário” que as
pessoas demonstrariam ter por ele, nos mais diversos níveis em que o
amor pode se apresentar.
Será que eu seria capaz de imaginar que esse modelo da Ralph Lauren
só conseguiria ser aceito numa turminha de faculdade se vivesse
rastejando em volta das pessoas, pedindo companhia e se humilhando por
um pouco de atenção? Será que dá pra imaginar esse cara bajulando as
pessoas para obter afeto e as ameaçando com algum tipo de punição caso
não fossem capazes disso? Não. Não dá.
Fui,
então, meio que obrigado a inverter a lógica da minha proposição
inicial: quanto menor a vaidade, quanto mais estilhaçada a autoestima,
maior será a necessidade de se sentir amado; maior será o desejo de ser
aceito. Seria como um bálsamo para uma ferida purulenta; um alívio para
uma dor insuportável; um remédio para uma doença terrível.
Foi
então que percebi que Deus teria que ser uma criatura muito, muito
doente. Uma divindade com um perigosíssimo distúrbio mental, talvez
tratável apenas com medicação pesada. E isso seria suficiente para me
fazer perder o sono, todas as noites depois das minhas orações, se eu
acreditasse que ele existe.
Como
me sentir feliz num universo criado e governado por um ser assim tão
carente, cuja primeira lei é a de que as pessoas devem amá-lo acima de
tudo? Que deus em sã consciência exigiria ser amado por decreto? Que
divindade é essa que dá-se ao trabalho de criar um universo para nele
pôr uma raça cujo único propósito seria o de adorá-lo
incondicionalmente? Como eu seria capaz de viver em paz num mundo em que
seu Criador ameaça expressa e subliminarmente aqueles que não lhe
devotem amor? Como
eu iria poder dormir à noite, tendo acabado de orar a um tirano cósmico
carente de afeto? Um ser todo-poderoso com sérios problemas mentais? Um
Deus tarja-preta digno de pena?
Direto do DeusILUSÃO.
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