Blasfêmia - parte 1
Publicado em 14/07/2011 por Barros
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Logo depois da publicação de God Delusion (Deus,
um delírio), Richard Dawkins foi entrevistado num programa de tevê em
que respondeu algumas perguntas dos telespectadores, dentre elas, a de
uma moça turca que, após dizer que não tinha lido o livro, perguntou o
que ele pensava a respeito de ter escrito coisas tão ofensivas sobre a
religião dela. Richard Dawkins deu, então, uma de suas respostas
antológicas. Primeiro, ele lembrou à moça que, se escreveu coisas
ofensivas, certamente não foi de forma gratuita, mas, de todo modo,
esperava que ela tivesse lido o livro antes de se achar apta a
criticá-lo. Segundo, que se alguém tinha uma visão completamente
diferente da dele, seria de se esperar que essa pessoa pudesse defender
sua posição argumentando algo como “Você está errado aqui, aqui, e aqui”, e não simplesmente dizendo “Ah, isso é ofensivo!, isso é ofensivo!”.
Eu
considero esse tipo de atitude como sendo parte de um sistema de defesa
da crença religiosa; um grito de alerta ou, antes, um sinal de ataque
que denuncia à coletividade devota a ameaça representada pela presença
do descrente. É mais ou menos o mesmo que se observa quando uma abelha é
morta pela mão de quem se aproximou demais da colmeia: com os odores do
seu corpo mutilado, a sentinela suicida sinaliza às suas companheiras
onde os demais ataques deverão se concentrar. O feromônio do inseto
morto marca o inimigo; os gritos de “blasfêmia!” denunciam à sociedade o
ateu.
Resumindo,
quando um crente ouve ou lê algo sobre a sua fé que não lhe agrada, ele
tende a pedir ajuda aos demais para repelir aquela ameaça, como parte
de um procedimento instintivo de defesa. Não há por que esperar, então,
que ele queira entrar em discussões filosóficas sobre o assunto; é mais
provável que só queira mesmo se livrar do intruso. Melhor ainda pra ele
que nem precisa morrer, como a abelha; ele só precisa chamar a atenção
para o alvo: “Blasfêmia! Blasfêmia!”.
Mesmo
não tendo como defender de forma racional suas convicções, pelo menos
ele não se sentirá sozinho. Em pouco tempo, terá a companhia de um
enxame igualmente incapaz de refutar os argumentos dissonantes, mas,
como grupo, habilmente treinado na arte mortal de eliminar dissidentes.
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CONTINUAÇÃO: Parte 2 - Parte final
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