Ontem, dois petistas falaram sobre liberdade de imprensa na TV: no Jornal Nacional, Dilma Rousseff; no programa Roda Vivia, da TV Cultura, o deputado cassado José Dirceu, acusado de chefe de quadrilha pela Procuradoria-Geral da República, assessor da campanha de Dilma. É aquele senhor que, não faz tempo, numa reunião com sindicalistas na Bahia — aonde fora como representante da campanha da então candidata petista — , defendeu o controle social da “mídia”. No Jornal Nacional, foi assim:
William Bonner: Presidente, deixa eu lhe dizer uma coisa: primeiro, mais uma vez, quero agradecer a sua presença aqui em nome de todos os profissionais da Rede Globo, em nome do público, porque isso aqui é certamente uma deferência. Segundo, a senhora disse ontem e repetiu aqui, durante essa entrevista, uma defesa da liberdade de imprensa. Nós, aqui, estamos entendendo a sua presença no Jornal Nacional como uma demonstração enfática disso e queremos dizer que nós, da imprensa, aguardamos diversas oportunidades como essa. Está certo: talvez não precise nem vir até aqui, mas que nos abra a oportunidade de uma conversa franca, porque faz parte da democracia que a senhora mesma defendeu
Dilma: Faz parte da democracia. Eu acho que o Brasil pode dar uma demonstração de muita vitalidade com a imprensa livre que nós temos e com essa relação em que, muitas vezes, as críticas existem. E eu acredito que elas cumprem um papel no Brasil. E pode ter certeza de que, da minha parte, a minha relação com a imprensa vai ser sempre uma relação respeitosa.
Voltei
Muito bem! Então tá combinado, é quase nada, é tudo só entrevista e amizade! Os projetos da Confecom serão jogados no lixo? Os petistas e aliados que estão apresentando propostas nas Assembléias serão desestimulados a fazê-lo? A resposta, obviamente, é não. Mas, acreditem os senhores, o tema do “controle social” da mídia já está ficando um pouco para trás. Isso é só rancor de Franklin Martins contra a TV Globo. A coisa está percorrendo outro caminho.
Muito bem! Então tá combinado, é quase nada, é tudo só entrevista e amizade! Os projetos da Confecom serão jogados no lixo? Os petistas e aliados que estão apresentando propostas nas Assembléias serão desestimulados a fazê-lo? A resposta, obviamente, é não. Mas, acreditem os senhores, o tema do “controle social” da mídia já está ficando um pouco para trás. Isso é só rancor de Franklin Martins contra a TV Globo. A coisa está percorrendo outro caminho.
O governo e os petistas estão empenhados em criar uma espécie de “Imprensa Espelho” — em relação a esta que está aí, de que eles não gostam. Dirceu defendeu ontem, no Roda Viva, o seu “direito de criticar a mídia”. Até chegou a repetir, atribuindo a outros, um bordão: “O povo não é bobo, concorrência da Rede Globo”. Questionado sobre essa conversa de que haveria monopólio e por que, então, os interessados não se organizam para fazer surgir a concorrência, ele anunciou, emprestando à afirmação aquele ar enigmático de quem sabe mais do que fala: “Vai surgir”. E até disse: “Se eu pudesse, eu teria um jornal”.
Pois este blog afirma que José Dirceu pode não “ter” um jornal naquele sentido tradicional, provado em catório e na junta comercial, mas “tem”, digamos, o controle, por caminhos oblíquos, de pelo menos 13 publicações hoje. A Globo não tem por que temer a cassação de concessões ou sei lá o quê. Não será assim. Os petistas estão empenhados em “ter” todas as outras emissoras de TV. “Controlam”, por diversos modos, pelo menos dois grandes portais de Internet. E querem mais. Quem lidera a formação dessa network governista-petista é justamente o “Zé”.
E há, claro, o trabalho de sempre, aquele que já vinha sendo feito, que consiste em usar a verba oficial de publicidade e das estatais para dar “apoio” à imprensa amiga e até a blogs da Internet que flertam abertamente com o crime.
Então eu volto agora à fala de Dilma Rousseff no Jornal Nacional. Defender a liberdade de imprensa compreende, por exemplo, pôr um freio a esse projeto megalômano e autoritário, já em curso, que consiste em ter a “própria imprensa”, usando tanto recursos públicos como o poder de pressão que o governo naturalmente mantém sobre vários anunciantes? Defender a liberdade de imprensa compreende suspender o financiamento a chicaneiros e bucaneiros disfarçados de jornalistas? Defender a liberdade de imprensa compreende não usar a TV Brasil, como aconteceu, para fins político-eleitorais? Saibam: quase não houve cidade do Nordeste visitada por Serra a que não comparecesse um repóter da TV oficial para fazer duas perguntas: “O senhor vai privatizar estatais? O senhor vai acabar com o Bolsa Família?” E isso pautava a chamada “mídia local”. Enquanto essas práticas estiverem em curso, eu escrevo com todas as letras: duvido das palavras de Dilma Rousseff e sustento que elas estão em desacordo com a realidade.
E encerro este post com um vídeo sem dúvida histórico sobre a diferença entre atos e palavras. Não fosse trágico, seria até engraçado.E achei com legendas em inglês:
Por Reinaldo Azevedo
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