Desde que o PT começou a gritaria de que estaria sendo vítima de uma grande conspiração de caráter fundamentalista movida pela oposição, afirmei que tudo não passava de um truque. Vocês sabem disso. No dia 6, escrevi o texto ABORTO OU ERENICE? ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE IMPRENSA. OU: “É O JORNALISMO, IDIOTA!”. Eu e FHC, que nunca disse aquela infâmia que lhe atribuíram, gostamos que lembrem o que escrevemos. O que é o DataTioRei havia apurado desde sempre? Isto, que segue no texto cujo link vai acima:
“Ainda que o Datafolha (…) chegue à conclusão de que isso [mudança de humor de parcela do eleitorado] foi obra de padres e pastores, eu continuarei fiel à minha convicção de que os brasileiros podem querer um pouco mais do que comer torresmo, salsicha e ovo colorido baratos no boteco da esquina. Ainda que o debate sobre o aborto tenha contribuído para tirar votos de Dilma Rousseff, ele entra como fator multiplicador de desgaste - ou como divisor de prestígio - numa base que vinha abalada por uma sucessão de escândalos.”
“Ainda que o Datafolha (…) chegue à conclusão de que isso [mudança de humor de parcela do eleitorado] foi obra de padres e pastores, eu continuarei fiel à minha convicção de que os brasileiros podem querer um pouco mais do que comer torresmo, salsicha e ovo colorido baratos no boteco da esquina. Ainda que o debate sobre o aborto tenha contribuído para tirar votos de Dilma Rousseff, ele entra como fator multiplicador de desgaste - ou como divisor de prestígio - numa base que vinha abalada por uma sucessão de escândalos.”
A comprovada dubiedade de Dilma sobre o aborto pode, entendo, no máximo, convidar uma parte do eleitorado a flertar com a evidência de que a figura imaculada, inventada por Lula e pela marquetagem, não corresponde à realidade - porque jamais corresponde, em qualquer caso. E isso “é jornalismo, idiota!”
Como vocês vêem, este nosso bloguinho sabe por onde caminha. A manchete da Folha desta segunda é esta: “Caso Erenice tirou mais votos de Dilma do que igrejas”. A grande conspiração, para começo de conversa, nunca existiu: não chega a um 1%, segundo pesquisa Datafolha, os que dizem ter mudado seu voto por determinação de alguma igreja — só 3% teriam recebido essa orientação. Era o que eu imaginava.
Sei que muita gente não entende isto, mas o fato é que há muitos eleitores que, mesmo aprovando o governo, não aprovam patifaria, entenderam? Entre os que votaram em Marina, por exemplo, 7% dizem ter deixado de votar em Dilma por conta do caso Erenice, que continua a render frutos novos porque ela era frondosa e prolífica. Só nesse caso, Dilma pode ter perdido 1,4 milhão de eleitores.
Informa a Folha:
“Segundo pesquisa Datafolha realizada na última sexta, cerca de 6% dos eleitores mudaram seu voto, considerando tanto Dilma quanto José Serra (PSDB), por conta dos casos que marcaram a reta final do primeiro turno. Desse total, Dilma perdeu cerca de quatro pontos percentuais entre o total de eleitores. Aproximadamente 75% das perdas ocorreram por conta dos escândalos recentes no governo. O restante, por questões relacionadas à religião- não exclusivamente envolvendo a posição da candidata sobre o aborto. Já Serra perdeu dois pontos percentuais. Tanto pelo caso de quebra de sigilo de tucanos quanto pelo caso Erenice.”
“Segundo pesquisa Datafolha realizada na última sexta, cerca de 6% dos eleitores mudaram seu voto, considerando tanto Dilma quanto José Serra (PSDB), por conta dos casos que marcaram a reta final do primeiro turno. Desse total, Dilma perdeu cerca de quatro pontos percentuais entre o total de eleitores. Aproximadamente 75% das perdas ocorreram por conta dos escândalos recentes no governo. O restante, por questões relacionadas à religião- não exclusivamente envolvendo a posição da candidata sobre o aborto. Já Serra perdeu dois pontos percentuais. Tanto pelo caso de quebra de sigilo de tucanos quanto pelo caso Erenice.”
Dilma, pois, não logrou o intento de se eleger no primeiro não em razão de alguma conspiração de pessoas perversas, como ela sugeriu ontem no debate da Band, mas por conta dos amigos que levou para o governo e do padrão ético da turma que comandava a Casa Civil, inclusive quando ela era ministra.
A corrosão pode ter demorado um tanto, mas veio. O PT acusou o golpe. E decidiu, então, inventar uma tramóia religiosa. Ao fazê-lo, tornou maior a questão — em boa parte, por intolerância. As igrejas sempre se manifestam em períodos eleitorais. E têm o direito de dar orientação a seus fiéis, ora essa! Os petistas, no entanto, não suportam esse comportamento se a orientação for contrária a seus interesses. Vá perguntar se Dilma recusou o apoio de um patriota como Edir Macedo, o dono da Igreja Universal do Reino de Deus e da Rede Record.
Gaspari pode sossegar o pito porque eu estava certo, e ele, errado. É bom começar a procurar outros motivos para a dificuldade eleitoral que Dilma enfrenta, o que não quer dizer que a questão religiosa não possa, inclusive, crescer. E muito por obra do PT. Afinal, uma coisa era a informação, que nunca foi mentirosa, de que ela era favorável à descriminação do aborto. Outra, mais séria, é a suspeita de que ela mente para o eleitorado para tentar se eleger, escondendo o que de fato pensa. Foi o próprio PT quem decidiu esquentar o tema, e ele acabou virando um “botão quente” da eleição. Os petistas mobilizaram a sua gigantesca máquina, na imprensa inclusive, para tentar tratar como “boato” o que sempre foi um fato.
O que interessa
Nesse caso, menos do que pensar isso ou aquilo sobre o aborto, pesa a suspeita de que a candidata pode “pensar” qualquer coisa para se eleger. E olhem que não faltam contradições se a oposição quiser confrontar Dilma com Dilma.
Nesse caso, menos do que pensar isso ou aquilo sobre o aborto, pesa a suspeita de que a candidata pode “pensar” qualquer coisa para se eleger. E olhem que não faltam contradições se a oposição quiser confrontar Dilma com Dilma.
No dia 26 de junho, escrevi aqui o post DILMA: NUM DIA, OS SOCIALISTAS; NO OUTRO, AS SOCIALITES. OU: ELA JÁ METEU O BONÉ DO MST NA CABEÇA. Por quê? No dia 24 de junho, em visita à cidade mineira de Uberlândia, Dilma concedeu uma entrevista a uma rádio, deitou falação contra as invasões de terras e disse não endossar as ações ilegais do MST. Foi muito direta mesmo:
“Quero dizer que sou contra qualquer ilegalidade cometida pelo Movimento dos Sem Terra ou qualquer outro movimento. Acho que ninguém que governe um país, um estado ou um município pode ser complacente com a ilegalidade. Invasão de terra, invasão de campo de pesquisa, invasão de prédio público é ilegalidade. E ilegalidade não é permitido (sic), e ninguém pode permitir que ocorra”.
“Quero dizer que sou contra qualquer ilegalidade cometida pelo Movimento dos Sem Terra ou qualquer outro movimento. Acho que ninguém que governe um país, um estado ou um município pode ser complacente com a ilegalidade. Invasão de terra, invasão de campo de pesquisa, invasão de prédio público é ilegalidade. E ilegalidade não é permitido (sic), e ninguém pode permitir que ocorra”.
Por que aquele discurso? Ora, ela falava numa região que tem uma forte presença do agronegócio e que sofre com o banditismo promovido pelo MST. Dilma, afinal, pensa como Dilma ou pensa como Kátia Abreu? Ela respondeu à indagação menos de 24 horas depois. No dia seguinte, na quinta, compareceu à convenção estadual do PT do Sergipe — estado em que fez carreira o presidente do PT, José Eduardo Dutra — e meteu o boné do MST na cabeça, como se vê nesta foto.
Antes, no dia 20 de abril, em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco — estado que tem a seção mais violenta do MST —, ela foi explicitamente indagada se meteria ou não o boné do movimento na cabeça. A candidata não hesitou:
“Acho que não é cabível vestir o boné do MST. Governo é governo, movimento social é movimento social”.
“Acho que não é cabível vestir o boné do MST. Governo é governo, movimento social é movimento social”.
Um dia depois de discursar em Uberlândia, não só a candidata petista se submeteu ao ritual como fez o seu discurso com o adereço ideológico na cachola. Em si, ele não é nada. A questão é o que simboliza: desrespeito à lei, violência no campo, financiamento público de um movimento de caráter político.
Eles não têm nenhum receio de falar uma coisa num dia e o contrário no seguinte. Mentem, desmentem-se, enrolam, vão adaptando o discurso ao público a que falam. Depois de, na quinta, Dilma prestigiar os socialistas do Sergipe, na sexta, ela foi ao encontro de socialites na casa do empresário Abílio Diniz. Certamente se mostrou uma pessoa empenhada em defender o crescimento, a reforma tributária, a lei a ordem — e, naturalmente, a educação e as criancinhas, que são o futuro do país, como vocês sabem bem… A promessa do boné durou dois meses; a crítica às ilegalidades do MST não durou dois dias.
Será baixaria tocar nesse assunto também?
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