* Chefe de Gabinete de Lula transportava dinheiro da quadrilha, diz denúncia aceita pela Justiça
* Segundo denúncia aceita, Carvalho entregava dinheiro da propina para José Dirceu
* PT e Carvalho agora são réus junto com Sérgio Sombra, acusado de ter matado o prefeito
Leiam o que informam Ana Paula Scinocca e Leandro Colon, no Estadão. Comento no post abaixo:
Uma decisão da Justiça traz de volta um fantasma que acompanha o PT e transforma em réu o partido e o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. O assessor e o PT viraram réus num processo em que são acusados de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos. O esquema seria o precursor do mensalão petista no governo federal.
Uma decisão da Justiça traz de volta um fantasma que acompanha o PT e transforma em réu o partido e o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. O assessor e o PT viraram réus num processo em que são acusados de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos. O esquema seria o precursor do mensalão petista no governo federal.
Na segunda-feira, a Justiça tomou uma decisão que abre de vez o processo contra os envolvidos. A juíza Ana Lúcia Xavier Goldman negou recursos protelatórios e confirmou despacho em que aceita denúncia contra Carvalho, o próprio partido, outras cinco pessoas e uma empresa. A juíza entendeu, no primeiro despacho, em 23 de julho deste ano, que há elementos suficientes para processá-los por terem, segundo a denúncia, montado um esquema de corrupção para abastecer o PT. “Há indícios bastantes que autorizam a apuração da verdade dos fatos por meio da ação de improbidade administrativa”, disse.
O Estado esteve no Fórum de Santo André na quinta-feira para ler o processo e a decisão de segunda-feira. A Justiça local já enviou para a comarca de Brasília a citação do chefe de gabinete de Lula para informá-lo de que virou réu. No documento, a Justiça pede que Carvalho receba o aviso em sua casa ou no “gabinete pessoal da Presidência da República”. O Ministério Público quer que o petista e os demais acusados devolvam os recursos desviados e sejam condenados à perda dos direitos políticos por até dez anos.
A decisão judicial em acolher a denúncia foi celebrada ontem pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da região do ABC, responsáveis pela investigação. “Ao receber a denúncia, a Justiça reconhece que há indícios para que a ação corra de verdade. É um caminho importante para resgatarmos o dinheiro desviado”, disse ao Estado a promotora Eliana Vendramini. Ela destaca que a Justiça decidiu aceitar a denúncia depois de ouvir a defesa de todos os acusados nos últimos três anos.
Segundo a ação, o assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando era secretário de governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002. “Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores”, diz a denúncia aceita pela Justiça. De acordo com a investigação, os recursos eram entregues ao então presidente do PT, José Dirceu.
Sombra
Apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato de Daniel, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é companheiro de Carvalho na relação de réus. Somam-se ao grupo o ex-secretário de Transportes Klinger Luiz de Oliveira Souza, o empresário Ronan Maria Pinto, entre outros. “O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores”, afirma a denúncia. “A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre da sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos.” O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT. Por isso, o partido também responderá ao processo como réu.
Apontado pelo Ministério Público como mandante do assassinato de Daniel, o ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, é companheiro de Carvalho na relação de réus. Somam-se ao grupo o ex-secretário de Transportes Klinger Luiz de Oliveira Souza, o empresário Ronan Maria Pinto, entre outros. “O valor arrecadado era encaminhado por Ronan ao requerido Sérgio e chegava, em parte, nas mãos de Gilberto Carvalho, que se incumbia de transportar os valores para o Partido dos Trabalhadores”, afirma a denúncia. “A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre da sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos.” O dinheiro, aponta a investigação, serviu para financiar campanhas municipais, regionais e nacionais do PT. Por isso, o partido também responderá ao processo como réu.
Escondido mas com o rabo de fora
A família Daniel tem certeza de que o assassinato de Celso está ligado ao esquema de propina que funcionava na Prefeitura para carrear dinheiro para o PT. O modelo é considerado uma espécie de software original, adaptado, depois, a outras cidades e outras esferas da administração a que o partido chegou — inclusive a federal.
A ar de santarrão de Carvalho, de quem se ouvirá falar muito nesta semana e nos próximos dias, engana. Ele não é só um rapaz manso, que sabe fazer o “Pelo Sinal”. É uma figura graduada na hierarquia do PT e elo mais forte que liga a administração ao partido. É tão importante que Lula chegou a pensar nele para presidir a legenda. Concluiu depois que não poderia abrir mão de sua colaboração no governo.
Carvalho conhece os subterrâneos no Palácio, onde se move de modo ágil e solerte. Na TV, a campanha de Dilma diz que Serra é “um gato escondido com o rabo de fora”. Certo! Já que os petistas escolheram a política como zoologia, se tucano é gato, petista só pode ser rato. Assim, seguindo a lógica escolhida pelos próprios petistas, Carvalho é, então, um rato escondido com o rabo de fora.
Não faz tempo, o Palácio do Planalto se envolveu numa tramóia para tentar jogar nas costas do senador Marconi Perillo (PSDB), que disputa o segundo turno do governo de Goiás, uma certa conta secreta no exterior. Descobriu-se depois que era tudo picaretagem. A conta nem existia. A caudinha — ainda para ficar na metáfora escolhida pelo próprio PT — de carvalho apareceu na história.
A denúncia aceita pela Justiça endossa a versão de João Francisco e de Bruno, irmãos de Celso Daniel. Eles afirmam que Gilberto Carvalho, que era o homem forte de Celso na Prefeitura de Santo André, sabia do esquema de propina. João Francisco chegou a afirmar em depoimento à Justiça ter ouvido do próprio Carvalho que era ele quem entregava o dinheiro a José Dirceu. Carvalho e Dirceu negam.
A família Daniel no exílio
João Francisco nunca foi petista. Ao contrário: sempre foi adversário do partido em Santo André. Bruno e sua mulher, Marilena Nakano, no entanto, eram filiados ao PT e não podem ser acusados de antipetismo congênito. Ela, um quadro do partido, chegou a ser secretária de Cultura no primeiro dos três mandatos de Celso, com quem havia militado no MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado). Irmã de Maria Nakano, mulher do lendário sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, Marilena era uma figura respeitada na esquerda.
João Francisco nunca foi petista. Ao contrário: sempre foi adversário do partido em Santo André. Bruno e sua mulher, Marilena Nakano, no entanto, eram filiados ao PT e não podem ser acusados de antipetismo congênito. Ela, um quadro do partido, chegou a ser secretária de Cultura no primeiro dos três mandatos de Celso, com quem havia militado no MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado). Irmã de Maria Nakano, mulher do lendário sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, Marilena era uma figura respeitada na esquerda.
Ocorre que a família Daniel não aceitou a versão oficial para a morte de Celso. A releitura das reportagens daquele período, com efeito, chega a estarrecer. E passou a se movimentar para, como dizia, cobrar lisura nas apurações. Ameaçados de morte, os irmãos Daniel e suas respectivas famílias tiveram de deixar o país. João Francisco se mudou para a Itália, e Bruno, Marilena e os filhos são hoje os únicos brasileiros oficialmente reconhecidos pelo governo da França como “exilados”. Abaixo, trecho do vídeo que Bruno Daniel gravou, pelo Skype, para o Manifesto em Defesa da Democracia. Ele conta parte da história.
E só complementando, vejam esse vídeo:
Por Reinaldo Azevedo
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