"Há mais no ateísmo do que a simples negação de uma afirmação: ele é na verdade baseado em uma atitude científica que valoriza a evidência e a razão, que rejeita afirmações baseadas somente em autoridade e que encoraja uma exploração mais profunda do mundo. Meu ateísmo não é somente uma negativa de deuses, mas é baseada em todo um conjunto de valores positivos que eu enfatizo quando falo sobre ateísmo. Aquele lance de negar a existência de Deus? É uma consequência, e não uma causa" - Myers(2011)
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Controle mental em escala mundial? Pode um parasita influenciar a cultura humana?
Parasitas são capazes de muitas coisas para facilitarem a transmissão. Controlar a mente do hospedeiro, forçar o suicídio dele e até mesmo controlar o sexo dele. Mas em todos estes casos, o hospedeiro é um animal menor, como uma lagarta. Será que algum parasita é capaz de controlar a mente do ser humano? Será que algum parasita é capaz de influenciar a cultura humana?
Você conhece a toxoplasmose? Pode não conhecê-la, mas são grandes as chances de ter. No Brasil, 2/3 da população tem, e como ela dificilmente causa problemas, poucos sabem que estão infectados. O causador é um organismo unicelular chamado Toxoplasma gondii.
O ciclo ideal do toxoplasma se dá entre o gato e o rato. Dentro do rato, hospedeiro intermediário, ele se reproduz assexuadamente. Depois do almoço, uma vez dentro do gato, o toxoplasma se reproduz sexuadamente e produz células resistentes chamadas oócitos, que vão parar nas fezes do gato e contaminam tanto o solo quanto a água.
Mas o toxoplasma também é capaz de infectar outros mamíferos, de humanos a golfinhos. Graças a isso, é um dos parasitas mais distribuídos e presentes. Quando contraímos ele através do solo, água e até mesmo carne mal preparada, ele se comporta como se estivesse em um rato.
Ao nos infectar, ele se esconde em células do sistema imune chamadas células dendríticas, e as induz a circular mais no corpo. As células dendríticas têm acesso privilegiado no nosso corpo e são capazes de entrar no cérebro, levando consigo o toxoplasma, como um cavalo de Tróia. No nosso cérebro, ele se aloja em células da glia, auxiliares dos neurônios. Lá o toxoplasma se reproduz aos montes, e manipula o sistema imune para controlar sua população em ciclos de sobe e desce. Nada que cause muitos problemas em pessoas saudáveis. O problema acontece nos imunocomprometidos, como portadores de AIDS e fetos. Nestes, não há resposta imunológica que controle a população do toxoplasma e ele causa graves danos neurológicos, daí a preocupação das grávidas com a toxoplasmose.
Toxoplasma acompanhado infectando rato, após 18 dias já se encontra na amígdala. ©PNAS, 2008
De volta ao rato, quanto mais o toxoplasma favorecer sua transmissão para o gato, mais será favorecido pela seleção natural. E é justamente o que ele faz. Uma vez dentro do rato, o toxoplasma se dirige para o cérebro , mas uma região bem específica dele, a amígdala. A amígdala é o centro de controle das emoções do cérebro. O que ele faz lá?
d9mvs5w_48fb97wxgw_bRatos infectados apresentam algumas reações diferentes. Deixam de evitar locais iluminados e o mais bizarro: os ratos perdem o medo do cheiro da urina de gatos . Em laboratório, pingar urina de gato em uma câmara de um labirinto é garantia de que os ratos evitarão aquele lugar. Já os ratinhos com toxoplasma circulam perfeitamente lá dentro, chegando inclusive a ter mais interesse pelo local. Outras respostas, como o medo de tomar choque continuam intacta. Ou seja, o toxoplasma é capaz de alterar um medo específico do rato! Coisa que anos de psicanálise não fariam.
Sabendo disso, cientistas começaram a se perguntar o mesmo que você deve estar se perguntando agora. Mas o toxoplasma não se comporta do mesmo jeito no ser humano e no rato?
Não que ele nos faça perder nosso medo de urina de gato, mas algumas relações intrigantes apareceram. Há uma grande correlação entre pessoas que sofrem de esquizofrenia e portadores de toxoplasma. Pior, remédios que tratam esquizofrenia, como haloperidol, matam o toxoplasma, deixando uma dúvida sobre quem o remédio trata.
E isso vai além. Em uma outra pesquisa , mulheres com toxoplasmose foram identificadas como mais afetuosas, inseguras e persistentes. Já os homens, mais ciumentos e menos interessados por novidades.
Agora aumente a escala disso. Imagine países tropicais, como os países latinos, onde o solo mais quente favorece a sobrevivência dos oócitos e têm altas taxas de toxoplasmose, em contraste com países do norte europeu, com índices baixíssimos da doeça. Pense na imagem que as pessoas têm dos latinos, mulheres mais quentes e afetuosas, e homens mais ciumentos…
Pense agora que metade das pessoas do mundo têm toxoplasmose e que nossa cultura é construída pela interação de todas as mentes…
Será que esse parasita pode ser mais um dos milhares de fatores que influenciam nossa cultura??
Pescado no Sedentariohiperativo...para mim o melhor blog do Brasil.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário